Streaming com propaganda: um dia, você também vai ter um
Minha experiência sendo fuzilado por mil anúncios no Disney+ (e uma breve análise do mercado)
Faço parte da massa de desvalidos que havia ganhado o Disney+ com a assinatura do Meli+ e que, em meados do ano passado, passou pela indignidade de ser rebaixado a um pacote com propagandas.
Até hoje estou tentando entender a lógica dos intervalos. Em outubro, decidi finalmente assistir à excelente “Xogum”. Dos 10 episódios, vários correram sem nenhuma interrupção. E olha que eles duravam em torno de 1 hora!
Corta para janeiro deste ano. Quis maratonar a última temporada que me faltava de “What We Do In the Shadows” e também acompanhar a recém-lançada animação do Homem-Aranha dentro do MCU, chamada “Homem-Aranha: Amigão da Vizinhança”. E fui notando um padrão.
Os primeiros episódios de “WWDITS” passaram sem intervalos comerciais. Mas se eu emendava dois ou três seguidos, no terceiro já havia muitos comerciais. Num dos episódios, que em média duram 30 minutos, cheguei a contabilizar quase 4 minutos de propaganda no total.
Com “HA:AV”, foi ainda mais curioso. Os três primeiros episódios, lançados no mesmo dia, tiveram zero comerciais. Todos os outros, lançados em blocos semanais de dois ou três, ganharam progressivamente mais propagandas. E minha impressão era de que piorava se eu via os três seguidos.
Claro que estou longe de ser uma amostra conclusiva, mas minha suspeita é de que há um algoritmo regulando os intervalos. Se o programa ainda precisa desesperadamente de audiência (como “Xogum”) e você assiste com vários dias de distância entre cada episódio, eles te deixam em paz. Não querem arriscar que você abandone o barco.
O mesmo vale quando a plataforma precisa emplacar um novo produto, como “HA:AV”. Mas, depois que você já provou que vai retornar toda semana, aí eles se sentem autorizados a entuxar de propaganda. E o mesmo vale quando você topa uma mini-maratona, como fiz com “WWDITS”.
Em suma: quanto mais você demonstrar que realmente está gostando, mais eles estão livres para testar seus limites.
(Sabe quem mais se comporta assim? Namorado abusivo 👀)
A má notícia é que assinaturas com propaganda devem se tornar a norma, não a exceção. A Netflix segue como o único streaming ainda viável financeiramente. Todas as outras empresas ainda não acharam um modelo de negócio sustentável. Provavelmente porque o modelo sustentável é o que eles estão ajudando a matar: a TV linear.
Nos EUA, a Amazon deu um golpe de mestre ao fazer o mesmo que o Disney+ fez no Brasil: rebaixou todo membro Prime ao pacote com propagandas. Não foi só uma medida para aumentar seu faturamento - foi uma marretada no joelho da concorrência. A Prime tem uma base enorme de assinantes (por causa dos descontos na compra online). Pela mera lei da oferta e da demanda, aumentar o total de pessoas impactadas com propaganda baixou o CPM pago pelos outros streamings.
Mesmo a Netflix não está imune. Uma consequência direta disso é a lenta porém vistosa paquera da Netinha com os esportes. Eventos esportivos ao vivo, como os jogos da NFL no Natal passado, são uma garantia da métrica que realmente importa aos anunciantes: engajamento.
Para a Nissan, que interrompeu diversas vezes meus episódios de “Homem-Aranha”, tanto faz se o Disney+ tem 124 milhões de assinantes no mundo todo. A questão é: quantos deles estão consumindo de fato a propaganda que ela pagou pra passar diante dos nossos olhos? Ao que parece, bem menos do que se espera.
Disney+ e Prime Video não revelam números, mas tudo indica que são plataformas de baixíssimo engajamento (e em valor desproporcional ao total de assinantes). Em outras palavras: muita gente tem, mas poucos realmente consomem a programação. Então, quando um otário como eu cai na isca, eles precisam arrancar a fórceps cada minuto de atenção que tenho pra dar.
Em tempo: além da NFL em dezembro passado e da luta bizarra do Mike Tyson em novembro, a Netflix também já assegurou a próxima Copa do Mundo de Futebol feminino e começou a exibição mundo afora da WWE, a maior grife de luta livre dos EUA. Parece que o próximo alvo é o UFC, cujos direitos devem entrar em renegociação daqui dois anos. Imagina?
O que tem de bom no streaming (e no cinema)
Completistas dos Oscar, nesta quinta 27 chegam os dois últimos indicados ao prêmio melhor filme.
A boa notícia é que um deles já vem direto para o streaming. Nickel Boys entra no catálogo do Prime Video contando a história de dois jovens negros num reformatório da Florida racista dos anos 60. É baseado no livro de Colson Whitehead, que venceu o Pullitzer literário alguns anos atrás com “The Underground Railroad” (que, aliás, o Prime também transformou em conteúdo, nesse caso uma minissérie linda, em 2021).
Nos cinemas, chega Um Completo Desconhecido, cinebiografia do compositor Bob Dylan. Timothée Salamê-Minguê está no papel principal, e é o único com chance de desbancar Adrien Brody (“O Brutalista”) na categoria de melhor ator. O filme foi bem elogiado, comprovando a regrinha implícita que tem definido quais cinebiografias musicais realmente dão certo: o músico não pode se importar com o resultado. Segundo consta, Dylan cagou e andou para o filme. How very dylanesque of him.
O que rolou no canal esta semana
18/2: Minha tradicional lista de filmes gays que você consegue ver completo, de graça, em boa qualidade, em português, no YouTube. Incluindo três pequenas obras-primas: “Maurice”, vencedor do Festival de Veneza; “Queda Livre”, idolatrado por 10 entre 10 gays; e “O Banquete de Casamento”, que vai ganhar remake ainda este ano.
21/2: Meus pitacos sobre duas notícias que monopolizaram as redes sociais gays nas últimas semanas: o casal gay evangélico que involuntariamente provou que os evangélicos não são nada inclusivos (precisava de prova?); e o fulano que aplicava Ozempic no namorado sem ele saber.
Quem avisa, amigo é
Tooooda vez que eu organizo Encontro do Gay Nerd, sempre tem meia dúzia que não consegue comprar ingresso porque deixou para a última hora.
Quando eu aviso que esgota rápido, não é truque de marketing. Um terço dos tíquetes para o evento no Rio já se foram (e olha que o Encontro só vai rolar em maio!)
Em São Paulo, segue mais ou menos no mesmo ritmo (mas aqui são 120 lugares; lá no Rio são só 90).
Não bobeia. Vem fazer novos amigos e reclamar ao vivo comigo sobre como os streamings estão caros e inviáveis! Ingressos do Rio aqui e de São Paulo aqui.
Beijos, meus amores!
O mais tenso é que eu assisto via MiBox na TV, e tem horas que o anúncio buga e simplesmente pára tudo. Quando tento re-abrir, o episódio volta desde o início... Caos total.